Rodrigo Rodrigues Alvim
Fui convidado para ministrar uma "aula da saudade" para formandos em Filosofia em fins do ano de 2009. Fiz dessa própria expressão tema do que deveria-lhes ser a última aula.
Preciso mesmo anunciar que a “aula da saudade”, para a qual viemos, está efetivamente adiada?
Preciso mesmo anunciar que, efetivamente, ela, na verdade, nunca se realizará?
Desejá-la é tudo o que ora podemos, se e quando a saudade da qual necessitamos para realizá-la ainda não existe.
Sim, há certamente entre nós muito desejo neste instante, mas não ainda saudade.
O impressionante é que quando a saudade brotar, também lá a “aula da saudade” não mais acontecerá, pois cada um consigo mesmo, já longe de seus professores e colegas de classe, apenas realizará essa “aula” por obra de sua solitária imaginação sobre os recortes de sua memória.
Se saudade é mesmo desejo do antes presente, mas agora ausente, dessa “aula”, propriamente dita, jamais poderemos ter saudades: saudades teremos, isto sim, das aulas que já aconteceram, mas, também, deste momento em que, mal posto, a “aula da saudade” somente poderia ter acontecido.
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Se etimologicamente saber é sentir o sabor da vida, ruminar é esse ato de mastigar e remastigar em pensamento as coisas do mundo, matutar sobre tudo. O matuto parece um ignorante, pois diz pouco. Mas é precisamente este seu jeito recolhido, ensimesmado - dirão outros, arredio e desconfiado -, que lhe dão o tempo para matutar. Afinal, bem refletir demanda tempo, um tempo que muitos hoje não mais se dão.
Pensar as coisas, pensar sobre o que se pensou e assim sucessivamente. Pensamento que se dobra sobre si mesmo, reflexão. A razão rumina a existência. Absortos, matutando, isto é filosofar. Pense conosco!
Acima, Caipira Picando Fumo
J. F. Almeida Júnior
Óleo sobre tela, 1893
Museu de Arte Contemporânea de São Paulo
9 de mai. de 2011
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