Pensar as coisas, pensar sobre o que se pensou e assim sucessivamente. Pensamento que se dobra sobre si mesmo, reflexão. A razão rumina a existência. Absortos, matutando, isto é filosofar. Pense conosco!

Acima, Caipira Picando Fumo
J. F. Almeida Júnior
Óleo sobre tela, 1893
Museu de Arte Contemporânea de São Paulo





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26 de jun. de 2012

TEXTO XXXII: Heráclito e Parmênides - Introdução à Ordem do Mundo


Rodrigo Rodrigues Alvim

01. É importante observar a dinâmica que pretende pensar o mundo ao modo dos filósofos, ao modo do que, então, se define pela inteligibilidade da dita realidade, a sua razão.

02. Trata-se de algo que não se encontra propriamente em conteúdos, mas na forma do proposto, de tal maneira que se equivoca nesse sentido quem se prende à simplicidade da diferença entre, por exemplo, a proposta de Tales e a de Anaximandro quanto à origem ou governo das coisas, na umidade (água) ou num indeterminado (ápeiron: ἄπειρον), respectivamente, quando aí é decisivo observar que se assemelham quanto à proposta de se referir ao princípio do mundo no próprio mundo, contra a tendência mítico-religiosa predominante de anunciá-lo para além das nossas condições, ou seja, de anunciá-lo como de origem divina, na vontade dos deuses que sequer se entendem entre si, conforme reclame de Xenófanes de Colofão.


03. Ainda formalmente, Tales e Anaximandro assemelham-se também na proposta de que todas as coisas estejam interligadas e são intercambiáveis por serem compostos por esse mesmo elemento “arqueológico” [elemento, ou seja, algo simples, não-composto, pois, se composto, importaria, antes, no que o compõe, este, sim, agora, rigorosamente simples e “a-tômico” (não divisível)]. As coisas deixariam de ser, assim, de governo distinto entre os seus diferentes deuses, cada qual responsável por um aspecto do mundo, aspecto isolado dos demais. A proposta filosófica faz o mundo formalmente ao alcance da compreensão humana, pois tem sua origem e governo no próprio mundo que habita. Por sua capacidade racional específica, pode o homem abarcar as coisas do mundo nas relações entre si, pelas quais elas se definem. Não há, pois, significativa diferença entre Tales e Anaximandro naquilo que os fez do mesmo modo filósofos. Então, podemos dizer que a indeterminação enquanto princípio que tudo determina e que, portanto, sendo primeiro, não-pode-ser-determinado, como claramente afirmou Anaximandro, já estava presente no "úmido" de Tales, na sua "água" que queria ser isso mesmo: aquilo que tudo determina e que, por conseguinte, não pode ser determinado.


04. Vê-se, então, que, desde os primeiros filósofos do Ocidente, é a forma do pensamento que importa, ainda que associado à sua matéria, porque a sua matéria mesma quer dizer que a origem do mundo está no próprio mundo e o faz inteligível por si só. Nesses termos, apesar do conteúdo de uma experiência do mundo, a novidade a que se chamou filosofia está nas "abstrações" de um encadeamento racional, pois um indeterminado não se predica dos dados sensíveis que se nos mostram, nem das representações e imagens oferecidas nas narrativas míticas e religiosas.

05. Voltemos, assim, para o foco do primeiro parágrafo, para a dinâmica que pretende pensar o mundo ao modo dos filósofos, ao modo do que se define pela intelegibilidade da dita realidade, a sua razão.

06. Paradigmaticamente, essa dinâmica se revela nas considerações de Heráclito de Éfeso e de Parmênides de Eleia, excludentes entre si para muitos comentadores, nem tanto assim para alguns poucos. Apresentaremo-las aqui de maneira dramática, ou seja, opondo-as radicalmente, como caricaturas que ressaltam alguns traços, aparentemente deformando, para nos aproximar do que lhes é próprio.

07. Parmênides se detém na mais radical das oposições: “o-que-é é; o-que-não-é não é”. Se além de o-que-é absolutamente não pode ser, então o-que-é jamais deixou de ser, pois se o tivesse deixado de ser, já não seria, pois do não-ser não pode vir a ser. Heráclito, por sua vez, parece já se deter nas relações admitidas como que na interioridade de o-que-é, em duas teses ou afirmações excludentes que, assim se contradizendo, são negações também, negações uma da outra. Heráclito vê nisso uma correspondência com os opostos que se manifestam no mundo, num mundo ora quente ora frio, por exemplo. Daí pensa que a contradição é a mola e essência da realidade, sempre nessa tensão que se resolve num outro que, como nova tese, é nova oposição a uma outra tese e, assim, nova tensão a se resolver, em movimento perpétuo. Heráclito se encanta com essas oposições, pois os opostos ao mesmo tempo se confirmam mutuamente: o maior, por exemplo, é a negação do menor e o menor, a negação do maior; no entanto, o maior só se afirma em face do menor e vice-versa, ou seja, um afirma o outro, um existe pelo outro, apesar de se negarem e se excluirem ao mesmo tempo. Por força da transitoriedade das coisas no mundo, parece a Heráclito que tais coisas são assim mesmo, por entre essas oposições (dialéticas).

08. Parmênides avalia que esse caminho trilhado por Heráclito é ilusório, pois não nos permite decidir com segurança. É o caminho dos sentidos, afeito apenas a opiniões. Mesmo entre os não eruditos, assim se dá: quando, senso comum, não estamos certos do que nos ocorre em pensamento, dizemos, quando o emitimos, se tratar de uma "opinião" (do grego doxa), sendo, pois, aceitáveis outras opiniões distintas da nossa, do mesmo modo que nos é facultado mudar de opinião a qualquer tempo. Ademais, quando alguém emite o que classifica como sua opinião, sentimo-nos confortáveis em proferir diferentemente. Por consequência, no caminho dos sentidos e das opiniões tem-se o múltiplo e mutável, sem qualquer certeza. Parmênides, entretanto, aponta para um caminho não ambíguo para se trilhar rumo ao conhecimento do verdadeiro, com segurança. Aliás, "conhecimento do verdadeiro" é, em Parmênides, uma repetição e, como tal, desnecessária: "conhecimento" (do grego épisthéme) é, inevitavelmente, apreensão do verdadeiro e "verdadeiro" é aquilo que, não podendo ser pensado de outro modo, só pode ser assim mesmo. Também aqui, essa compreensão se revela entre os menos eruditos, pois quando, senso comum, estamos diante de duas pessoas que afirmam conhecer sobre determinado assunto, ficamos na expectativa de que ambos manifestem o mesmo sobre tal assunto, se é que realmente ambos o conheçam. Este parece ser o caminho da razão (no grego: λόγος), da lógica: o evidente é o que só pode ser visto (do latim, vides) do mesmo modo, sem confusão com aquilo que ele não é, claro e distintamente. Logo, no caminho da razão e do conhecimento tem-se o universal e imutável.

09. Tal clareza e distinção parecem asseguradas pelo que se denominou, pouco mais tarde, princípio de identidade, um princípio da razão, sem o que ela, a razão, então não ocorre. Trata-se da evidência de que algo é idêntico a si mesmo, proferido, em termos absolutos por Parmênides, do seguinte modo: o-que-é é. Assim, além de o-que-é, trata-se de um absurdo, pois não-é. O-que-é, que certamente é tudo o que é, como está posto, não admite outro, pois, desse modo, não seria tudo o que é. Somente o-que-é pode ser rigorosamente pensado e, se é, já se trata de o-que-é. Parece uma redundância tríplice dizer: o-que-é é o que é [1) o-que-é 2) é 3) o que é]. Comumente, em nossas atuais equações do mundo, essa redundância se mostra principalmente através do signo da igualdade (=), também chamado de "razão" ou de "justa proporção", dentre outros. O mundo seria como que uma grande equação, um desdobramento que, resolvido, redunda no mesmo. Se o-que-é é verdadeiro, o falso é a sua negação. Encontra-se nisso a expressão de dois outros princípios da razão parmenidiana: o princípio do terceiro excluído (o que faz dessa razão uma razão binária: ou é ou não é, ou é verdadeiro ou é falso, não havendo outra possibilidade) e o princípio da contradição (em termos absolutos: um mesmo não pode ser e não ser; em termos relativos, não do interesse de Parmênides, mas suficientemente considerados ulteriormente por Aristóteles: uma coisa não pode ser e não ser ao mesmo tempo e numa mesma relação). Ilustremos:

- Princípio de identidade (também chamado de Princípio de não-identidade) : X é (idêntico a) X:

X=X, uma tautologia, é obviamente verdadeiro, sendo, pois, a sua negação, falsa.

- Princípio do terceiro excluído: ou X é ou não é:

ou X=Y ou X ≠ Y possuem valores de verdade (ou verdadeiro ou falso) necessariamente opostos.

- Princípio de contradição (também chamado de Princípio de não-contradição): Ao mesmo tempo, X não pode ser e não ser Y, mas X pode ser e não ser em relações diferentes; em tempos diferentes, X pode ser e pode não ser, ainda que em mesma relação:

Ao mesmo tempo, X=Y e X≠Z (relações diferentes).
Em tempos diferentes, embora em mesma relação, (“antes”) X=Y e (“agora”) X ≠ Y.

10. Em Heráclito, as oposições são ambivalentes, conforme dissemos antes: os opostos, ao mesmo tempo em que se excluem, se afirmam, de tal modo que não seria possível a um dos extremos excluir o outro sem excluir a si mesmo. A solução, explicitada na transição da modernidade para a contemporaneidade por G. W. Friedrich Hegel, foi a negação do princípio do terceiro excluído da lógica de Parmênides, pela consideração de um terceiro a que chamou de “síntese”, conforme o esquema abaixo:

TESE     X     TESE 

              ↓ 

          TESE

X nesse esquema significa uma oposição, uma oposição entre teses radicalmente extremas. Assim, se tomamos por referência a tese da direita, a da esquerda é a contra-tese, a anti-tese; do mesmo modo, se tomamos a tese da esquerda como referência, é a da esquerda que é a antítese.


O vetor ↓ significa a condução da oposição das duas primeiras teses a uma terceira tese, que é como que uma união por suprassunção (um superar conservando) das teses anteriormente em tensão. Só que, sendo uma nova tese, ela também só se afirma pela sua tese oposta, inaugurando uma nova tensão, que é suprassumida numa nova síntese. Temos assim um esquema infinitamente mais amplo e de movimento perpétuo em todas as direções:


 (...)


TESE     X     ANTÍTESE 

             ↓

SÍNTESE
(Nova) TESE     X     ANTÍTESE 

                         ↓ 

                       (...)

11. Como se vê, tal movimento (vir-a-ser ou devir) não tem origem e nem fim, sendo o mundo eterno. Também não é um movimento arbitrário ou mágico, mas expressa uma ordem, uma inteligibilidade, uma razão, segundo lemos no seguinte fragmento de Heráclito: "Este mundo, igual para todos, nenhum dos deuses e nenhum dos homens o fez; sempre foi e será um fogo eternamente vivo, acendendo-se e apagando-se conforme a medida." (Fragmento, 30).

12. Mais uma vez aqui, embora de modo não predominante, há como se vê alguma proximidade com o que Parmênides defenderá mais tarde, pois se pode dizer que o mundo para Heráclito é único e mesmo, comportando assim todo existente. Por isso, além dele, não é. Contudo, o todo, único e mesmo que é, Parmênides considera-o finito e imutável, enquanto, para Heráclito, trata-se de um movimento infinito pela mola da contradição que se harmoniza: Eles não compreendem como, separando-se, podem harmonizar-se: harmonia de forças contrárias, como o arco e a lira. (Fragmento, 51).

4 de abr. de 2012

TEXTO XXIX: Análise Lógica do Texto "Instaurare omnia in Christo"

Rodrigo Rodrigues Alvim

01. Por ocasião da Páscoa do ano de 2006, os alunos representantes dos Diretórios Acadêmicos dos Cursos de Filosofia e Teologia do Centro de Ensino Superior de Juiz de Fora – CES-JF – me pediram algumas palavras escritas para que pudessem ser publicadas num informativo, chamado “Anônimo”, pelo qual eram eles responsáveis. Assim, ao segundo número do primeiro ano deste informativo, que tinha por tema a “renovação”, apresentei o seguinte texto:

“Instaurare omnia in Christo”

(01). Se fôssemos completamente presos à “terra” (1), nem mesmo disto teríamos “consciência”, pois desta a “distância” é uma das características básicas (2). Se fôssemos completamente presos à “terra”, não poderíamos “nos ultrapassar” (3)... Ora, vemo-nos “diante” do mundo, embora nele estejamos mergulhados; vemo-nos “diante” de nós próprios, embora sejamos nós próprios... Logo, como seres conscientes de si e do mundo, ultrapassamo-nos a todo instante (4).

(02). Os antigos gregos assim se compreenderam: animais em posse do “fogo” dos deuses e, por isto mesmo, nem mais totalmente animais, nem totalmente deuses, nem metade animais e metade deuses, mas um terceiro: homens (5)!

(03). A tradição judaico-cristã foi mais direta: somos à imagem e semelhança de Deus (6).

(04). Por não estarmos completamente presos à “terra”, esta “distância” nos faz para nós próprios e, portanto, livres – livres inclusive para nos entregarmos completamente à “terra”. Logo, se assim é, quem “responde” por nossa “entrega” somos nós mesmos.

(05). Livres e conseqüentemente responsáveis, podemos conscientemente mudar a nós próprios. Entretanto, quem muda a si mesmo conscientemente se reconhece naquilo que antes fora e, por conseguinte, continua sendo, em alguma medida, o que outrora se fora. Somos, pois, um rastro, um “superar-conservando”, uma “suprassunção” por excelência (7).

(06). Quanto a nós, cristãos, penso que não devo perder a memória do “homem velho”, a fim de exaltar a atualidade do “homem novo” (8), que é antes “re-nascendo” que prontamente nascido. E, com os meus irmãos de fé, eu guardo a íntima esperança de que a nossa renovação em Cristo, numa Páscoa tão infinita quanto Deus, possa contagiar e renovar a “terra”.

(1) Alusão a Friedrich Nietzsche.
(2) Gerd Bornheim e outros.
(3) Friedrich Nietzsche em questão.
(4) Dinâmica da vida humana.
(5) Por exemplo, o mito de Sísifo ou de Prometeu.
(6) Imago Dei, Gn 1, 27.
(7) Antropologia dialética.
(8) Alusão a Paulo de Tarso, Col 3, 9-11.

02. Dias subsequentes à Semana da Páscoa, obtive um dos exemplares do informativo no qual estava publicado este meu pequeno escrito, quando saía de um dos campi do CES-JF, Instituição na qual trabalhei como professor de disciplinas filosóficas, dentre as quais encontrava-se a “Lógica”. Carreguei-o comigo.

03. Já noutro momento, estando eu a aguardar, dentro de sala de aula, que os meus alunos terminassem a resolução de alguns exercícios pertinentes à disciplina anteriormente citada, resolvi tomar algo para ler. Como não trouxera nada comigo, senão aquele exemplar do informativo “Anônimo”, acabei lendo-o mais uma vez e mais outra e mais outra.

04. De repente, percebi que já estava eu perscrutando a estrutura lógica do meu texto acima exposto, apesar de sua simplicidade, ou, de outra forma, analisando o encadeamento de pensamento que possivelmente fiz ao constituí-lo. Tal “distração” que encontrei redundou nas considerações que agora passo a apresentar e que, no meu juízo, parecem-me oportuno a quem já leu os Textos VII, VIII e XVIII (que se encontram dentro da Categoria “Lógica” deste Blog), os quais apresentam rudimentos da lógica aristotélica e simbólica, respectivamente. Como temos aí apenas rudimentos lógicos, a análise aqui é também, para uma compreensão possível, bastante rudimentar, mas já permite que se entreveja, com tão pouco, o uso de elementos lógicos para análise ou construção do discurso.

05. Ademais, não poderia eu perder tais condições para isto, porque constantemente relembro aos meus alunos que todos sempre fizeram e fazem uso do que fundamentalmente importa à “Lógica” filosófica, que, enquanto tal, é apenas a chance que encontramos de pensar sobre como sempre pensamos, ou seja, de explicitar o que sorrateiramente sempre nos acompanhou em nossas conversas, seja em nossas discussões familiares, em nossos debates em mesa de bar, em nossas queixas às autoridades públicas, etc. Do mesmo modo, quando escrevi o meu pequeno texto em questão, não o fiz por uma explícita análise lógica, mas como algo que me pareceu livre e espontaneamente coerente. Contudo, o que posso agora constatar é que tal coerência se deu e se mantém tanto mais o que eu disse ou escrevi coincidiu e coincide com os limites, com a estrutura ou com os princípios e as normas da minha própria razão (ainda que nem tudo se reduza tão-somente a isto). Por conseguinte, se bem argumentar faz parte do ofício do filósofo, redigir dominando os recursos lógicos é imprescindível à formação do estudante de filosofia e de todo acadêmico.

06. O título do texto é um imperativo e, como tal, pretende incitar o leitor a uma determinada ação: instaurar, restaurar, renovar “tudo” ou “todas as coisas” à luz da mensagem de Cristo (o “Filho de Deus” e o próprio Deus aos por isto mesmo denominados cristãos). Por “todas as coisas” toma-se “o mundo no qual vivemos”, que, no entanto, para o cristianismo, não é tudo, pois esta religião professa entidades transcendentes ao “mundo no qual vivemos” e existência após morte para o homem. “Todas as coisas” e “mundo no qual vivemos” também são chamados, no texto, de “terra”. Tudo isto está subentendido no texto desde o seu título e pelo público ao qual ele se dirige. Clamar que “todas as coisas” sejam renovadas à luz da mensagem de Cristo significa aceitar que elas assim não se encontram e, portanto, que “todas as coisas” e a mensagem de Cristo se distinguem. Mas significa, ao mesmo tempo, que “todas as coisas” podem se conformar à mensagem de Cristo por obra daqueles a quem o imperativo se dirige, ou seja, por obra dos cristãos, destinatários do texto. Para isto, não podem os homens serem apenas um produto do meio em que vivem, do “mundo no qual vivemos”, da “terra”. Esta disjunção pode ser assim representada:

p – A “terra” é passível de ser renovada à luz da “Boa Nova” cristã.
q – Todos nós somos completamente determinados (“presos”) pela “terra”.

p w q [Ou a terra é passível de ser renovada à luz da “Boa Nova” cristã ou todos nós somos completamente determinados (“presos”) pela “terra”].

07. Como o texto tem por seu título o imperativo “Instaurare omnia in Christo”, estará obviamente na sustentação da proposição p pela negação da proposição q:

p w q
~ q
-------------------------
:. p

08. Neste sentido, a tese que o texto pretende defender é a de que nós não somos completamente presos à “terra”, pois, como observamos no seu decorrer,

~ q g p (Se nós não somos completamente presos à “terra”, então a “terra” é passível de ser renovada à luz da “Boa Nova” cristã).

~ q g p
~ q
-------------------------
:. p

09. Por força disto, o primeiro parágrafo do texto se configura a partir da elaboração de uma argumentação que possa ter como sua conclusão necessária a proposição de que nós não somos completamente presos à “terra”. Largamente, isto ocorreu desta maneira:

Todo completamente preso à “terra” não é capaz de ultrapassar a “terra”.
Ora, (todos) nós somos capazes de ultrapassar a “terra”.
Logo, (todos) nós não somos completamente presos à “terra.

10. Este argumento é válido: 1) possui três termos: um maior (“o completamente preso à ‘terra’”), um médio (“o capaz de ultrapassar a ‘terra’”) e um menor (nós); 2) os termos da conclusão não têm extensão maior do que eles mesmos nas premissas (o sujeito da conclusão é universal e se encontra com igual extensão como sujeito da premissa menor; o predicado da conclusão, encontrando-se numa proposição negativa, é universal e se encontra com igual extensão como sujeito da premissa maior); 3) o termo médio não entra na conclusão (para exercer o seu papel mediador, este termo se encontra devidamente presente em ambas as premissas); 4) o termo médio é universal ao menos uma vez (apesar de sua extensão particular na premissa menor, ele se faz universal na premissa maior); 5) de duas premissas negativas, nada se conclui (somente a premissa maior se faz negativa); 6) de duas premissas afirmativas, não pode haver conclusão negativa (não obstante a conclusão seja negativa e a premissa menor seja afirmativa, a premissa maior é negativa); 7) a conclusão segue sempre a premissa mais fraca (do ponto de vista quantitativo, a conclusão é universal, mas do mesmo modo o são as premissas das quais ela se infere; do ponto de vista qualitativo, da premissa maior negativa e da premissa menor afirmativa, a conclusão é negativa, seguindo, pois, a qualidade mais fraca da premissa maior); 8) de duas premissas particulares, nada se conclui (não é o caso deste argumento, formado por duas premissas universais).

11. Apesar de válido, este argumento não é “perfeito”, ou seja, ele é “inteligível”, mas não o mais claramente inteligível. De outra forma, embora tal argumento respeite as regras lógicas acima, o lugar do termo médio (M) na premissa maior faz com que ele contrarie a sua extensão comparativamente à extensão do termo maior (T), pois este como sujeito e o termo médio como predicado faz com que o termo maior seja considerado menor que o termo médio:

Sujeito 
< 
Predicado

Premissa maior:
Premissa menor:
Conclusão:
T
t
t
< 
< 
< 
M
M
T
Termo maior (T)
menor que o
termo médio (M)

 12. Neste caso, pode-se apenas fazer a conversão simples dos termos da premissa maior, uma vez que esta é uma proposição universal negativa. Recorrendo ao atalho medieval, trata-se do modo CES/A/RE de 2ª Figura (imperfeita) que deverá ser reduzida ao modo CE/LA/RENT de 1ª Figura (perfeita). Desta maneira, obteremos o argumento abaixo:

Todo capaz de ultrapassar a “terra” não é completamente preso à “terra”.
Ora, (todos) nós somos atos ultrapassantes.
Logo, (todos) nós não somos completamente presos à “terra.

13. Em seguida, dos fundamentos da tese, tem-se a expectativa de que alguém poderá suspeitar da premissa menor: (todos) nós somos atos ultrapassantes”. Daí a necessidade de justificação desta proposição, o que ocorre, primeiramente, por uma simples recorrência à autoridade (de Gerd Albert Bornheim), que afirma ser a “distância” uma das características básicas de realização do ato de consciência, o que permite ao texto, ainda nas entrelinhas de seu primeiro parágrafo, rascunhar uma articulação de argumentos mais ou menos assim:





┌ ּּּּ

└→


┌ ּּּּ
└→


Todo se voltar para si ou para outro (mundo) [estar “diante” de...] implica em tomada de distância de si ou de outro (mundo).
Ora, toda consciência de si ou de outro (mundo) implica em se voltar para si ou para outro (mundo) [estar “diante” de...].
Logo, toda consciência de si ou de outro (mundo) implica em tomada de distância de si ou de outro (mundo).

Toda tomada de distância de si ou de outro (mundo) é ato ultrapassante de si ou de outro (mundo).
Ora, toda consciência de si ou de outro (mundo) implica em tomada de distância de si ou de outro (mundo).
Logo, toda consciência de si ou de outro (mundo) é ato ultrapassante de si ou de outro (mundo).

Toda consciência de si ou de outro (mundo) é ato ultrapassante de si ou de outro (mundo).
Ora, cada um de nós é consciência de si ou de outro (mundo).
Logo, cada um de nós é ato ultrapassante de si ou de outro (mundo).

14. Estes argumentos são válidos, porque observam as oito regras lógicas já antes explicitadas e aplicadas em argumento silogístico anterior, e são racionalmente óbvios (ou perfeitos), pois também o termo médio (M) nas premissas de cada um dos argumentos permite o respeito à extensão de todos os termos destes mesmos silogismos. Trata-se em todos os casos do modo BAR/BA/RA de 1ª Figura.

15. Os parágrafos segundo e terceiro do texto são ilustrações histórico-culturais de compreensão de que nós homens não somos completamente presos à “terra”, mas ultrapassamo-la como a nós mesmos. Indiscutivelmente pode ser encarado como recurso retórico de importantes efeitos psicológicos sobre o leitor em favor da tese do autor do texto. Todavia, permite ser cunhado logicamente como imediatamente apresentamos:






┌ ּּּּ
└→



┌ ּּּּ
└→
Os antigos gregos e a tradição judaico-cristã compreendiam o homem como seres ultrapassantes ou transcendentes ao mundo.
Ora a cultura ocidental é produto dos antigos gregos e da tradição judaico-cristã.
Logo, a cultura ocidental compreende o homem como seres ultrapassantes ou transcendentes ao mundo.

A cultura ocidental compreende o homem como seres ultrapassantes ou transcendentes ao mundo.
Ora, nós pertencemos à cultura ocidental.
Logo, nós compreendemos o homem como seres ultrapassantes ou transcendentes ao mundo.

Todo homem é compreendido por nós como seres ultrapassantes ou transcendentes ao mundo.
Nós somos homens.
Logo, nós somos compreendidos por nós (mesmos) como seres ultrapassantes ou transcendentes ao mundo.

16. Resolve-se, enfim, um dilema que assim se expressa:

q – Todos nós somos completamente determinados (“presos”) pela “terra”.
r – Todos nós somos livres.

(q . ~ r) w (~ q . r) [Ou todos nós somos completamente determinados (“presos”) pela “terra” e todos nós não somos livres ou todos nós não somos completamente determinados (“presos”) pela “terra” e todos nós somos livres].

17. Por tudo o que já se desenvolveu até aqui, tal dilema equaciona-se do seguinte modo:

{[(q . ~ r) w (~ q . r)] . ~ (q . ~ r)} g (~ q . r)

18. Conclui-se, pois, que todos nós não somos completamente determinados (“presos”) pela “terra” e que todos nós somos livres.

19. O parágrafo quarto do texto explora tal resultado e infere da dimensão de nossa liberdade a nossa autodeterminação e responsabilidade. Representamo-lo também por um silogismo válido e perfeito de primeiro modo:

Todo aquele que é livre responde pelos seus atos (“entregas”).
Ora, todos nós somos livres.
Logo, todos nós respondemos pelos nossos atos (“entregas”).

20. O quarto parágrafo segue nos desdobramentos lógicos a partir do antes igualmente desdobrado:

Toda mudança voluntária de si mesmo (livre e responsável) é consciência de si próprios como interseção extensiva a  um antes e um depois (“suprassunção”).
Alguns dentre nós mudam-se a si mesmos voluntariamente.
Alguns dentre nós são consciências de si próprios como interseções extensivas a um antes e um depois (“suprassunção”).

21. Este argumento é construído de modo a ser válido: DA/RI/I, 1ª Figura.

22. Todo este suporte lógico visa atender ao que requer a mensagem final do texto, que guarda, em seu mais fundo, a tradicional relação DEUS – HOMEM – MUNDO. Aliás, a filosofia foi, por muitos e longos anos, definida como um tratado destas três “substâncias” ou “naturezas”. Numa perspectiva cristã e otimista, o mundo submete-se à boa vontade humana, que, por sua vez e enquanto tal, só pode coincidir com a vontade santa de Deus, porque perfeita. Finalmente, não é o mundo que determina o homem, mas é Cristo que o contagia no exercício da própria liberdade do homem e, através deste, renova a “terra”. Eis a inabalável “aliança”, a grande PÁSCOA que ininterruptamente se realiza e o banquete dito eterno pelos cristãos.

23. Como propus e desenvolvi aqui uma análise de texto sobretudo numa perspectiva silogística, o material examinado deveria ser agora re-elaborado – caso se pretenda dele uma atenção tanto lógica quanto de estilo literário. Afinal, bem se viu que, tantas vezes, teve-se que recorrer mais ao subtendido do que ao explicitamente dado. Por isto mesmo, a análise aqui feita também não deixou de ser uma defesa do próprio texto, quando se procurou sempre apresentá-lo mediante recursos de silogismos não somente válidos, mas também perfeitos. Apesar disto, não se está aqui comungando de uma tendência que geralmente afirma que um texto mais atento à sua elegância prejudica a sua clareza lógica ou vice-versa. Ao contrário! Como já disse antes, quando produzi o texto aqui examinado, fi-lo sem qualquer esboço de estrutura lógica. Se ele permitiu ainda alguma análise desta ordem, isto se deveu estritamente ao fato de ele ter sido composto por um ser racional e de modo argumentativo. Creio, pois, que, se eu o redigisse novamente agora, não apenas o melhoraria em sua clareza mas igualmente em arte e inspiração.


24. Em nossas considerações cotidianas, também não estamos a prezar por esta clareza lógica. Na verdade, isto demanda tempo – e tempo é precisamente o que atualmente não nos é mais oferecido para pensar. Se “tempo é dinheiro”, a pobreza material do filósofo, que o oferece todo ao pensamento, está devidamente justificada. De certa vez, num programa televisivo, foi pedido a uma filósofa que, rapidamente, dissesse o que pensar sobre determinado ponto da questão então em pauta. Ela não quis se manifestar. Insistiu-se. Fez ela um gesto de passar a vez. Teimou-se, contudo. Então ela disse, sem esconder algum cansaço: se vocês querem saber o que pensar sobre isto, eu preciso de mais tempo e posso dizê-lo depois; se, entretanto, vocês querem apenas a minha opinião, esta sim eu posso lhes apresentar agora.

27 de jan. de 2012

TEXTO XXIII: Lógica e Existência

Rodrigo Rodrigues Alvim


Historicamente, a filosofia ocidental foi, pouco a pouco e de um modo geral, perdendo o seu otimismo relativamente à identidade entre o ser e o pensar. A razão foi perdendo o seu lastro com a realidade e frisar isto se tornou para muitos condição de possibilidade para obter as credenciais de crítico. A própria razão entrou, assim, em crise, tornando-se autofágica. Não há mais uma instância última racional, mas instâncias imediatas de razões, multiplicadas em pretensas unidades incomensuráveis entre si. Não há mais a lógica como antes se acreditava, mas sistemas lógicos ou logísticas. As distinções entre o real e o virtual estão cada vez mais embotadas. É disto que este texto trata (*).


01. Podemos perceber que, para Jacques Maritain, é sumamente importante à Filosofia manter intacto o vínculo da Lógica com a Metafísica (1) (ou, em termos mais largos, do pensamento com a existência).

02. Particularmente, isto se revela nas suas considerações acerca da “extensão” e da “compreensão” dos termos das proposições constituintes dos silogismos categóricos: “os antigos não eram nem exclusivamente ‘extensivistas’ nem exclusivamente ‘compreensivistas’” (2).

03. Por isto mesmo, tal consideração lógica só se faz mais clara ao fundo de suas posições metafísicas. Faço alusão à “Questão dos Universais” que, embora marcante na baixa Idade Média, respeita o intento deste filósofo de fazer o pensamento de Tomás de Aquino dialogar com a “modernidade” ou, melhor, com a contemporaneidade.

04. Como classicamente se expõe, também para Maritain a “Querela dos Universais” se radicaliza por dois grupos de filósofos, um denominado “realista” e outro denominado “nominalista”.

05. Basicamente, para os “realistas”, os “universais” são reais. Portanto, nas palavras de Maritain, defendem que “aquilo que nossas idéias nos apresentam sob um estado universal existe na realidade sob um estado universal” (3).

06. Ao contrário, para os “nominalistas”, os “universais” são apenas “nomes”. Logo, como nos escreve Maritain, defendem que “aquilo que nossas idéias nos apresentam sob um estado universal não existe absolutamente na realidade” (4).

07. Assim, podemos entrever uma simetria entre estas vertentes “metafísicas” e as exclusividades dos pontos de vista “lógicos” da “extensão” e da “compreensão”, mais acima referidos.

08. Como a “modernidade” é marcada por uma crise da metafísica, ou seja, da aceitabilidade da existência per se de “entidades metafísicas”, tal simetria pende atual e crescentemente para o lado dos “nominalistas”, que modernamente adquiriram outros nomes: empiristas ou neo-empiristas, positivistas ou neopositivistas e outros mais.

09. Na concepção dos “neotomistas” (dentre estes, pois, também Maritain), a obra de Tomás de Aquino (pela qual o pensamento aristotélico se conforma à mensagem cristã) pode ser avaliada como de cunho “moderado” (5) dentro deste debate entre “realistas” e “nominalistas”, porque, pretensamente calcado em Aristóteles de Estagira, não poderia negar a “realidade” dos “universais” em detrimento da “realidade” dos “individuais” ou vice-versa. Noutros termos, a obra de Tomás de Aquino admite, embora não simplesmente, tanto as observações do “realismo absoluto” quanto às do “nominalismo”, considerando-os, desta maneira, extremistas exclusivistas e, como tais, insustentáveis. Desde então, surge entre estes o que se chamou de “realismo moderado”.
10. Na expressão do próprio Maritain, o “realismo moderado” de Aristóteles e Tomás de Aquino contempla tanto o “nominalismo” quanto o “realismo” ao defender, respectivamente, que “aquilo que nossas idéias nos apresentam sob estado universal NÃO EXISTE fora do espírito sob este estado de universalidade, [mas] EXISTE fora do espírito sob estado de individualidade” (6).

11. Tendo tudo isto como pano de fundo, penso podermos melhor entender os ensinamentos da lógica propostos por Maritain, quando afirma que, “realmente, se a lógica aristotélica guardou a justa medida [entre a importância de se atentar para a “extensão” e a “compreensão” dos termos das proposições categóricas], a ‘lógica clássica’ entre os modernos, sobretudo após Leibniz, parece muito bem se haver alterado sob preocupações exclusivamente extensivistas” (7). Sendo assim, estes “modernos” reafirmam-se “nominalistas”.

12. Ora, quais seriam as conseqüências desta exclusividade?

13. Partindo da posição dos “nominalistas” frente aos “universais”, os “conceitos” perdem completamente sua força de realidade. No campo da Lógica Menor (formal), isto se traduziu, por um lado, na abstenção crescente com o cuidado dos termos das proposições constitutivos dos silogismos categóricos do ponto de vista da “compreensão” (de suporte metafísico) e paradoxalmente, por outro lado, abriu condições para a construção de “sistemas” completamente alheios à sua fundamentação empírica (que nos reporta ao campo da Lógica Maior – material – , da Teoria do Conhecimento).

14. Na perspectiva do primeiro desdobramento, ressaltou Maritain que “o ensino da Lógica, à medida que aos poucos se inclinava a reduzir todo o raciocínio unicamente à verificação das relações de extensão, sofreu nos tempos modernos uma grave deformação.” Ainda nas palavras de Maritain, podemos selecionar tal deformação do seguinte modo:

Muitos autores mais ou menos nominalistas, confundindo a extensão de um conceito com a resolução deste numa simples coleção de indivíduos, isto é, sua destruição pura e simples, e compreendendo, por conseguinte, de maneira inteiramente errônea a máxima que ‘o silogismo vai do universal ao particular’, interpretam o silogismo de um ponto de vista inteiramente coletivo; quero dizer consideram o silogismo como consistindo em fazer passar a um ou a alguns indivíduos um predicado verificado em todos os membros da coleção, de que estes indivíduos fazem parte. Isto é um erro fundamental e, em realidade, a destruição de toda Lógica; e por isto não é de se admirar que tais autores, tendo nem mais nem menos do silogismo uma concepção tão pouco sutil, considerando-no como uma vã tautologia ou então um círculo vicioso. (...). Em realidade, não se trata de uma coleção de indivíduos, é a natureza universal comunicável a estes e tomada como termo médio que dá todo o valor da inferência silogística e que, somente ela, dá sua razão de existir. Não é do ponto de vista de uma simples coleção de indivíduos, é do ponto de vista da essência universal que devemos nos colocar para compreender o silogismo. Este consiste em fazer passar a um sujeito (individual ou universal) um predicado que sabemos ser verdadeiro da natureza universal que impõe sua lei a esse sujeito: operação legítima e que faz progredir o conhecimento (...) (8).

15. Na perspectiva do segundo desdobramento, por sua vez, eis o que pensamos o melhor a destacar dos escritos de Maritain:

(...) a Logística é alguma coisa essencialmente diferente da Lógica. Enquanto a Lógica refere-se ao próprio ato da razão em seu progresso para a verdade, portanto à ordem dos próprios conceitos e do pensamento, a Logística refere-se às relações entre sinais ideográficos e portanto aos sinais como considerados como suficientes a si mesmos, uma vez estabelecidos. Em conseqüência, a segunda destina-se a dispensar de pensar, a evitar as operações racionais e propriamente lógicas, tais como distinção, argumentação, etc. e a suprimir qualquer dificuldade no raciocínio por uma álgebra, aliás excessivamente complicada, que a inteligência bastaria aplicar. A primeira, pelo contrário, destina-se a ensinar a pensar, a ensinar a efetuar convenientemente as operações racionais e propriamente lógicas, tais como distinção, argumentação, etc., e a ensinar a vencer as numerosas dificuldades do raciocínio por uma arte (virtude intelectual) que deve aperfeiçoar intrinsecamente a própria vida da inteligência e cooperar para a sua atividade natural (9).


16. A Logística, para Maritain, é um “sistema de cálculo ideográfico universal” inaugurado por Gottfried Wilhelm Leibniz e que obteve grande desenvolvimento somente a partir do século XIX, através dos esforços de lógicistas-matemáticos ingleses e italianos como Augustus de Morgan, George Boole, F. W. K. E. Schröder, H. MacColl, Charles Sanders Pierce, Macfarlane, Giuseppe Peano, Bertrand Russell, Alessandro Padoa) (10).

17. Gilbert Hottois esclarece esta mesma distinção do seguinte modo:

Na tradição, o pensamento domina e está em primeiro lugar; a voz, a palavra, exprime o pensamento, e a escrita permite ficar a palavra. Na combinatória [Logística], a escrita tende a ocupar o primeiro lugar, porque depois de o alfabeto dos pensamentos ter sido fixado a ideografia, o cálculo dos pensamentos torna-se um jogo regulado por meio de símbolos, que procede automaticamente e como que cegamente. Leibniz falava de resto a este propósito de “pensamento cego”, ainda que num sentido positivo: um modo de fazer que deixa de estar sumetido à lentidão e às imprecisões do pensamento intuitivo que, naturalmente, acompanha o discurso. (...). A escrita calculante é mais rápida, mais ágil e também mais segura do que a inteligência pensante, e avança à sua frente (11).


18. A Leibniz, como idealizador da Logística, Maritain não poupa críticas, precisamente pelo abuso que aquele fez (e muitos filósofos contemporâneos ainda fazem) de proposições puramente tautológicas, distanciando-se assim de toda “lógica sã, isto é, toda lógica que trabalha com os conceitos e com os objetos do pensamento, e não apenas com palavras e com sinais, toda arte que é realmente uma arte de pensar e não uma álgebra que dispensa de pensar” (12). Particularmente em Leibniz, isto se faz mais “grave” para Maritain que igualmente o considera “um espírito mais profundamente metafísico” (13). Ora, “a determinação do sujeito como matéria pelo predicado como forma se encontra não somente em nossa maneira de conceber ou em nosso espírito (ordem lógica), mas também na realidade (ordem real, física ou metafísica)” (14), o que, no entanto, parece ignorado nas abstrações Logísticas (15).

19. Embora não desenvolvida, crítica geral e similar foi escrita por Pascal Ide em sua obra A arte de pensar:

Não é raro que o homem faça do ato do raciocínio uma finalidade e esqueça que ele está a serviço da inteligência. Esse grave desvio que afasta o espírito de sua verdadeira função e de seu desabrochar verifica-se naquele que multiplica cálculos e as teorias e não sabe deter-se para contemplar o verdadeiro. Em última instância, o intelectual é mais seduzido pelo funcionamento de sua razão, por sua habilidade de encadear as demonstrações e fazer conjecturas: é completamente o inverso dessa genuflexão interior da inteligência que, centrada não no eu, mas na realidade extramental, apaga-se diante de seu objeto, tornando-se este objeto. (...). Quanto ao celebral raciocinate, ele não conhece mais, ele pensa, só isso. Aliás, por estender excessivamente um raciocínio, não se sabe mais se ele diz a verdade. Roger Caratini dá o exemplo de um teorema de quinze mil páginas, cuja própria extensão desencoraja de saber se ele enuncia alguma verdade (16).

20. Muito opostamente a Maritain, Bertrand Russell há de reclamar precisamente das concepções metafísicas de Leibniz ou de um certo ainda vínculo seu à tradição filosófica, como a sustentada ainda por Maritain, que não o deixaram ir muito mais além em seus percursos lógicos e ainda o fizeram relegar estes seus estudos “assombrosamente lógicos” ao fundo de gavetas por longos anos, mesmo depois de sua morte (17).

21. Gostaria de nos entregar neste sentido a um recorte de exposição e comentário que o próprio Russell faz da filosofia de Leibniz, especialmente, é claro, das transições lógico-metafísicas que este pensador outrora realizou. É o que imediatamente se segue.

Na maior parte das vezes, Leibniz representa a criação como um ato livre de Deus, que requer o exercício de sua vontade. De acordo com esta doutrina, a determinação do que realmente existe não é afetada pela observação, mas tem de efetuar-se mercê da bondade de Deus. À parte a bondade de Deus, que o leva a criar o melhor mundo possível, não há, a priori, nenhuma razão para que uma coisa deva existir de preferência a outra. Mas, às vezes, em papéis não revelados a nenhum ser humano, há uma teoria inteiramente diferente acerca deste ponto: por que algumas coisas existem e outras, igualmente possíveis, não existem? Segundo esta opinião, tudo o que não existe luta por existir, mas nem todas as coisas possíveis podem existir, porque nem todas são “compossíveis”. Pode ser possível que A deva existir e que B também deva existir, mas pode não ser possível que A e B existam ao mesmo tempo; neste caso, A e B não são “compossíveis”. Duas ou mais coisas só são “compossíveis” quando é possível a todas elas existir. (...) Leibniz emprega mesmo este conceito como um modo de definir a existência. Diz ele: “o existente pode ser definido como aquilo que é compatível com mais coisas do que aquilo que é incompatível consigo mesmo.” Isto quer dizer que se A é incompatível com B, enquanto que A é compatível com C e D e E, mas B só é compatível com F e G, então A, mas não B, existe por definição. “O existente – diz ele – é o ser que é compatível com a maioria das coisas.” Nesta exposição, não há referência a Deus e, ao que parece, nenhum ato de criação. Tampouco é necessária qualquer outra coisa senão a lógica pura para determinar o que existe. A questão de se saber se A e B são “compossíveis” é, para Leibniz, uma questão lógica, isto é: envolve a existência de A e B uma contradição? Segue-se daí que, na teoria, a lógica pode decidir a questão de se saber que grupo de “compossíveis” é o maior, e este grupo, por conseguinte existirá. Não obstante, talvez Leibniz não tenha realmente querido significar que o que foi dito acima era uma definição de existência. Se era apenas um critério, pode conciliar-se com suas opiniões populares, mediante o que ele chama de “perfeição metafísica”. A perfeição metafísica, segundo ele emprega o termo, parece significar quantidade de existência. “É – diz ele – nada mais que a magnitude da realidade positiva estritamente entendida.” Sempre afirma que Deus criou tanto quanto possível; esta é uma das razões para se rejeitar o vácuo. (...). Leibniz, na sua maneira de pensar privada, é o melhor exemplo de filósofo que usa a lógica para a metafísica. Este tipo de filosofia começa com Parmênides e é levado mais avante por Platão, ao empregar a teoria das idéias para provar várias proposições extralógicas. Spinoza pertence a esse mesmo tipo, o mesmo acontecendo com Hegel. Mas nenhum deles é tão preciso como Leibniz, ao tirar deduções da sintaxe e aplicá-las ao mundo real. Esta classe de argumentação caiu em descrédito, devido ao desenvolvimento do empirismo. (...) não há dúvidas de que as inferências encontradas em Leibniz e em outros filósofos a priori não são válidas, já que todas elas são devidas a uma lógica defeituosa. A lógica sujeito-predicado, que todos os filósofos deste tipo aceitaram no passado, ou ignora completamente as relações, ou apresenta argumentos falazes para provar que as relações são irreais. Leibniz é culpado de uma contradição especial, ao combinar a lógica sujeito-predicado com o pluralismo, pois a proposição “há muitas mônadas” não é da forma da do sujeito-predicado. Para ser coerente, um filósofo que acredita que todas as proposições devem ser desta forma deveria ser um monista, como Spinoza (18).

22. A Platão é atribuída a âncora metafísica pela qual, por séculos, o pensamento (logos) ocidental foi se construindo. Diante da necessidade de situar-se neste mundo inegavelmente múltiplo e transitório, de bom grado os homens nele se fixaram através da “Teoria das Idéias” deste filósofo grego. Por força do desejo de uma “segurança existencial”, este monismo da “natureza” também açambarcou e conteve a difusão do relativismo cultural sofístico.


23. A Aristóteles coube desenvolver uma “gramática” do pensamento, a Lógica, correspondente, em última instância, a este “sistema universal” platônico. Apesar de ser, somente na modernidade, um dos grandes responsáveis pela crise desta Lógica de fundamentos metafísicos, Immanuel Kant, nascido somente oito anos após a morte de Leibniz, escreverá:

(...) a Lógica não ganhou muito em conteúdo desde os tempos de Aristóteles e isso é uma coisa de que ela é por natureza incapaz. (...). Poucas ciências há capazes de atingir uma situação estável, onde não sofram mais alterações. Entre essas contam-se a Lógica e a Metafísica. Aristóteles não deixou de lado nenhum aspecto do entendimento; nisto somos apenas mais exatos, metódicos e ordenados. (...). Entre os filósofos modernos há dois que deram um impulso à Lógica geral, Leibniz e Wolff (19).

24. Leibniz se encontra, verdadeiramente, filiado a esta tradição. Não obstante a origem da crise metafísica date-se muito antes da contemporaneidade (já falamos aqui do “nominalismo” e do empirismo que, ainda na Idade Moderna, culminou com David Hume, coetâneo de Kant), somente no decorrer do século XIX foi ela denunciada com toda consciência, através, por exemplo, do pensamento de Friedrich Nietzsche.

25. Com isto, a Lógica voltou-se para a multiplicidade dos fatos, dos quais as Novas Ciências fizeram seus objetos e, em momentos de grande otimismo, creram tê-los reduzido a constantes (suas teorias), à luz das quais, por sua vez, desenvolviam os seus programas de intervenção no mundo. Neste sentido, o ideal do calculus ratiocinator leibniziano se torna atraente, se entendido – tomando as palavras de Gilbert Hottois – como o estabelecimento de “técnicas de raciocínio automatizáveis, mecanizáveis, por forma a poder substituir o pensamento, a intuição, por um cálculo sobre símbolos, mais seguro e mais rápido” (20).

26. Desta volta aos fatos do mundo, o Tractatus logico-philosophicus, obra de Ludwig Wittgenstein, foi a principal expressão deste movimento. Isto já nos fica suficientemente claro pelas quatro primeiras das sete proposições que o sustentam: “o mundo é tudo o que é o caso”; “o que é o caso, o fato, é a existência de estados de coisas”; “a figuração lógica dos fatos é o pensamento”; “o pensamento é a proposição com sentido” (21). Tornou-se, por isto, a “gramática” dos neo-empiristas ou neopositivistas, embora não ter o seu próprio autor tardado em colher os resultados maiores da crise metafísica contemporânea e em reconhecer os limites da resposta dada à mesma pela postura lógico-empirista.

27. Tal sensibilidade wittgensteiniana encontra-se melhor manifestada em outros textos seus, postumamente publicados sob o título Investigações filosóficas, particularmente quando elabora uma teoria do significado das proposições assentada no seu “uso”. Noutros termos, as “significações” são adquiridas precisamente pelo seu “treino”, “ensino” ou “uso” intensivo – estes são os termos que predominantemente o próprio Wittgenstein faz constar nesta sua obra. E os “jogos de linguagem”, dos quais podemos “usar” ou freqüentar ou perfazer ou partilhar, são tantos quantos grupos humanos existentes: “representar uma linguagem significa representar-se uma forma de vida” (22).

28. Diferentes desafios espácio-temporais que o mundo colocava aos grupos humanos redundaram em diferentes desafios de organização para sua sobrevivência que foram sendo respondidas em conformidade com as disposições disto que geralmente tomamos como o pensamento humano (respostas pretensamente universais a diferentes condições concretas de vida). Diferentes culturas humanas foram assim se constituindo e as diferentes manifestações e instituições sociais foram se sustentando umas pelas outras, capazes assim de se mostrarem como que uma só peça ou “continuum”, no esforço de um “melhor dos mundos possíveis” aos desafios enfrentados. Estes arranjos se confirmam nos adjetivos assumidos pelas diferentes sociologias ou antropologias: “dialética”, “evolucionista”, “funcionalista”, “estruturalista”...

29. Esses escopos sociais históricos podem ser chamados “naturais” se confrontados aos escopos sociais estritamente “teóricos”, que vão desde “a república” de Platão até o “modo de produção comunista” de Marx, mesmo que estes seus progenitores os pretendam “reais”.

30. Numa abordagem estritamente “simbólica”, o único efetivo é o que comportou (e comporta) o maior número de “compossíveis”... Isto poderia responder ao fenômeno político que assombrou Alexis de Tocqueville: um movimento universal a favor da “democracia”.

31. Assim também o “simbólico” é prospectivo ao “melhor dos mundos possíveis” e a uma “harmonia”, ainda que por antíteses e sínteses como propôs-nos Georg-Wilhelm Friedrich Hegel.

32. Não obstante todas essas representações, algumas mal disfarçam, como se vê, a sua disposição ou tendência ao “universal” e “natural”. Mesmo a lógica indutiva, tão mecanicamente aplicada no campo das ciências naturais, não passaria de um trânsito invertido de inferências dedutivas do mundo ou das leis da natureza que ao universo assegurariam ciclos constantes, breves ou longos (uma idéia incapaz de esconder o seu teor altamente metafísico). Lembremo-nos aqui de John Stuart Mill e de Pierre-Simon Laplace em duas de suas expressões mais consagradas, respectivamente: “que o curso da natureza é uniforme constitui o princípio fundamental, o axioma da indução” e que “um intelecto que (...) conhecesse todas as forças (...) e todas as posições de todos os itens dos quais a natureza é composta (...) compreenderia numa única fórmula os movimentos dos maiores corpos do universo e os do menor átomo”. Sem tais otimismos metafísicos (relativos à totalidade da existência), não se pode escapar às ofensivas já deixadas por David Hume e atualizadas por Karl Popper.

33. É tal disposição que a filosofia leibniziana assume, embora alguns possam chamar essa moderação de contradição. Antes que a criatividade humana possa elaborar sistemas formais e logísticos, por um lado, temos a intuição de estarmos mergulhados num dado “cosmos” e não num “caos” ou numa ordem apenas imaginária. E para que seja possível alinhavar vários “bolsões de sentido”, como é o caso, Leibniz naturalizou tal procedimento humano na figura de um Deus que, antes, assim procedeu. Vemos como que Deus diante de vários mundos possíveis, assim como o homem diante de vários sistemas logísticos. Dentre todos esses sistemas virtuais humanos, tendemos àquele que mais tem a capacidade de se e nos aproximar do “real”. E, para não nos tornarmos inócuos nessa tarefa, sendo vítimas de uma “ausência de princípio” ou de uma espécie de “regresso ao infinito” (tomemos, aqui, antes de tudo, as conseqüências existenciais ou práticas disso), o “real”, conforme a teoria do “melhor dos mundos possíveis” de Leibniz, é o mundo atual (o que comporta mais compossíveis), escolhido por Deus para ser criado dentre os vários outros (apenas virtuais), mas por ele igualmente contemplados, uma metafísica que não nos afasta da dita realidade, mas que, muito pelo contrário, nô-la avaliza e nos sustenta.

34. Longe, pois, das logísticas ou do simplesmente “virtual”, podemos agora compreender melhor as seguintes palavras de Maritain:

(...) a Lógica é uma arte feita para servir à inteligência e não para substituí-la: a Lógica formal deve ensinar modos de proceder que não acarretem perigo algum do lado da forma, isto é, da disposição dos termos, que não enganem a inteligência, com a condição de que esta faça obra de pensamento, com a condição de que o espírito se mova realmente; ela não tem como finalidade confiar-nos fórmulas que sejam suficientes a si próprias para se desenvolverem, uma máquina algorítmica que progride sozinha, permanecendo a inteligência em repouso ou exercendo influência só para vigiar a marcha (23).


Máquina de Calcular de Leibniz

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(*) Este artigo, publicado na Rhema (Revista de Filosofia e Teologia) com o título "Lógica e logística: possibilidade de uma distinção entre o real e o virtual", sofreu pequenas adaptações para sua publicação neste Blog.
(1) Neotomista, Jacques Maritain se filia à tradição aristotélica, assentada, por sua vez, numa lógica que só se justifica enquanto tem lastro com a metafísica. Particularmente no Brasil, a ele pertenceu, já no final da primeira metade do século XX, a autoria de uma das poucas obras de lógica aqui existentes. Tal constatação já era realçada em 1966 por um dos nossos maiores logicistas nos seguintes termos: “No ano de 1942 (...), era também publicada a Lógica Menor (...), de parte do extenso curso que Jacques Maritain desenvolvia na França, ainda agora um dos mais minuciosos tratamentos do silogismo de que dispomos. Desde então, praticamente mais nada saiu de nossas editoras (...).” (HEGENBERG, Leônidas. Lógica simbólica. São Paulo: Herder, 1966. p. XV).
(2) MARITAIN, Jacques. Elementos de filosofia II: a ordem dos conceitos – lógica menor (lógica formal). Tradução de Ilza das Neves e revisão de Adriano Kury. 10. ed. Rio de Janeiro: Agir, 1983. p. 201.
(3) Idem. Elementos de filosofia I: introdução geral à filosofia. Tradução de Ilza das Neves e Heloíza de Oliveira Penteado; revisão de Irineu da Cruz Guimarães. 14. ed. Rio de Janeiro: Agir, 1985. p. 107.
(4) Idem. Ibidem.
(5) Este traço de “moderação” do pensamento aristotélico-tomista constitui o principal marco de sua defesa na obra de Jacques Maritain contra as “deficiências” ou os “excessos” das demais filosofias, principalmente modernas e contemporâneas. Pensamos que este caráter “sintético” mas original da obra de Aristóteles e de Tomás de Aquino foi, por isto mesmo, recuperado e ainda mais sublinhado por Maritain nos dois primeiros terços do século XX, pois cumpre várias funções importantes, a saber: atualiza tal obra, compreendendo as questões das filosofias hodiernas como já pensadas por ela; apresenta, em contrapartida, as filosofias do nosso tempo como manifestações das correntes ou vertentes filosóficas do passado e já então devidamente combatidas por ela; assume-se como conciliadora dos extremos filosóficos de todos os tempos, reforçando-se a si própria como philosophia perennis. Enfim, além de moderar os debates entre os “realistas” e “nominalistas”, o pensamento aristotélico-tomista modera a relação, por exemplo, entre a Filosofia e as Ciências, extremadas por René Descartes e por Auguste Comte (p. 72 ), entre o senso comum e a Filosofia, extremadas pela “Escola Escocesa” e pela “Escola Racionalista e Criticista” (p. 90), entre o “mecanicismo” e o “dinamismo” (p. 111), entre o “sensualimo” e o “inatismo” (p. 115-116), entre as “tendências materialistas” e as “tendências idealistas” (p. 117), entre os “substancialistas” e os “fenomenistas” (p. 147), entre o “intelectualismo radical” e o “antiintelectualismo” (p. 159), etc. (Cf. Idem. Ibidem).
(6) Idem. Ibidem.
(7) Idem. Elementos de filosofia II: a ordem dos conceitos – lógica menor (lógica formal). p. 201, nota 6.
(8) Idem. Ibidem. p. 234-236.
(9) Idem. Ibidem. p. 247.
(10) Idem. Ibidem. p. 246-247.
(11) HOTTOIS, Gilbert. Pensar a lógica: uma introdução técnica e teórica à filosofia da lógica e da linguagem. Tradução de Miguel Mascarenhas. Lisboa: Instituto Piaget, 2004. p. 19. (Coleção Pensamento e filosofia).
(12) MARITAIN, Jacques. Elementos de filosofia II: a ordem dos conceitos – lógica menor (lógica formal). Op. cit. p. 193.
(13) Idem. Ibidem. p. 122.
(14) Idem. Ibidem. p. 125.
(15) Ao prefaciar o seu Dicionário de lógica, Leônidas Hegenberg, embora claramente não acolha a divisão aqui proposta por Jacques Maritain, reconhece que também outros autores, como G. P. Baker e P. M. S. Hacker em “Frege: logical excavations” (1984), “fazem restrições a cálculos formais, asseverando que ‘têm reduzida importância filosófica e diminuto emprego em Filosofia. (...). Olham com desconfiança para a ‘Lógica dos lógicos’ (isto é, ‘dos matemáticos’) e pensam dedicar-se apenas à ‘verdadeira’ Lógica, uma disciplina que ‘fala’ aos seres humanos ‘normais’, que não exige ‘esforço inútil’, com ‘simbolismos que ninguém entende’, (...).” (HEGENBERG, Leônidas. Dicionário de lógica. São Paulo: E.P.U., 1995. p. V).
(16) IDE, Pascal. A arte de pensar. Tradução de Paulo Neves e revisão de tradução de Marina Appenzeller. São Paulo: Martins Fontes, 1995. p. 18.
(17) RUSSELL, Bertrand. História da filosofia ocidental. Tradução de Brenno Silveira. 2. ed. São Paulo: Nacional, 1967. v. III. p. 107 e 117-119.
(18) Idem. Ibidem. p. 120-122.
(19) KANT, Immanuel. Lógica. Tradução de Guido Antônio de Almeida. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1992. p. 38.
(20) HOTTOIS, Gilbert. Pensar a lógica: uma introdução técnica e teórica à filosofia da lógica e da linguagem. Op. cit. p. 19.
(21) WITTGENSTEIN, Ludwig. Tractatus logico-philosphicus. Introdução de Bertrand Russell; tradução, apresentação e ensaio introdutório de Luiz Henrique Lopes dos Santos. 2. ed. São Paulo: Edusp, 1994. p. 135, 147, 164.
(22) Idem. Investigações filosóficas. Tradução de José Carlos Bruni. 4. ed. São Paulo: Nova Cultural, 1989. p. 15. (Coleção os pensadores: Wittgenstein / Moore).
(23) MARITAIN, Jacques. Elementos de filosofia II: a ordem dos conceitos – lógica menor (lógica formal). Op. cit. p. 257.