Pensar as coisas, pensar sobre o que se pensou e assim sucessivamente. Pensamento que se dobra sobre si mesmo, reflexão. A razão rumina a existência. Absortos, matutando, isto é filosofar. Pense conosco!

Acima, Caipira Picando Fumo
J. F. Almeida Júnior
Óleo sobre tela, 1893
Museu de Arte Contemporânea de São Paulo





27 de jun. de 2010

TEXTO VII: Elementos de Lógica Aristotélica

Rodrigo Rodrigues Alvim

PRINCÍPIOS:

Princípio de Identidade:
Uma coisa é sempre idêntica consigo mesma (Toda coisa é o que é).

Princípio de Não-Contradição:
Uma coisa não pode ser e não ser ao mesmo tempo e numa mesma relação e aspecto.

Princípio da Tríplice Identidade:
Duas coisas iguais a uma terceira são iguais entre si.

Princípio da Discrepância:
Duas coisas, uma igual a uma terceira coisa e a outra não, são diferentes entre si.

Princípio do Terceiro Excluído:
Uma coisa ou é ou não é, não existindo um terceiro termo.



A - Proposição Universal Afirmativa.
E - Proposição Universal Negativa.
I - Proposição Particular Afirmativa.
O - Proposição Particular Negativa.

OPOSIÇÕES:

A(V), necessariamente E(F)
A(V), necessariamente I(V)
A(V), necessariamente O(F)
A(F), E(V ou F)
A(F), I(V ou F)
A(F), necessariamente O(V)

E(V), necessariamente A(F)
E(V), necessariamente I(F)
E(V), necessariamente O(V)
E(F), A(V ou F)
E(F), O(V ou F)
E(F), necessariamente I(V)

I(V), A(V ou F)
I(V), necessariamente E(F)
I(V), O(V ou F)
I(F), necessariamente A(F)
I(F), necessariamente E(V)
I(F), necessariamente O(V)

O(V), E(V ou F)
O(V), necessariamente A(F)
O(V), I(V ou F)
O(F), necessariamente E(F)
O(F), necessariamente A(V)
O(F), necessariamente I(V)

REGRAS:

Referentes aos termos:

1. Todo silogismo possui três termos: maior (T), médio (M) e menor (t).
2. Os termos da conclusão não podem ter extensão maior que nas premissas.
3. O termo médio nunca entra na conclusão.
4. O termo médio deve ser universal ao menos uma vez.

Referentes às proposições:

5. De duas premissas negativas nada se conclui.
6. De duas premissas afirmativas não pode haver conclusão negativa.
7. A conclusão segue sempre a premissa mais fraca.
8. De duas premissas particulares nada se conclui.

FIGURAS:

1ª. Figura (Perfeita)

M T
t M
t T


T > M > t

2ª. Figura (Imperfeita)

T M
t M
t T


M > T > t

3ª. Figura (Imperfeita)

M T
M t
t T


T > t > M

4ª. Figura ou 1ª. Figura Indireta (Imperfeita)

T M
M t
t T


T < M < t

MODOS (Extraídos de fórmula latina medieval):

1a. figura: BAR/BA/RA...CE/LA/RENT...DA/RI/I...FE/RI/O

2a. figura: CES/A/RE...CAM/ES/TRES...FES/TI/NO...BAR/OC/O

3a. figura: DA/RAP/TI...FE/LAP/TON...DIS/AM/IS...DA/TIS/I...BOC/AR/DO...FE/RIS/ON

4a. figura: BA/RA/LIP/TON...CE/LAN/TES...DA/BI/TIS...FA/PESM/O...FRIS/ES/OM/ORUM.

REDUÇÕES:

S - Por conversão simples da proposição.
P - Por conversão acidental da proposição.
M - Por transposição das premissas.
C - Por absurdo.

6 de jun. de 2010

TEXTO VI: A Filosofia de Platão

Rodrigo Rodrigues Alvim

Última atualização: 12 de abril de 2011, à 13h15min.

01. Arístocles era o seu verdadeiro nome, mas todos o chamavam de Platão, que significa “amplo”, apelido que se devia aos seus ombros largos em corpo atlético ou ao seu nariz largo e chato. Há ainda quem atribua seu apelido à reconhecida largueza de seu conhecimento sobre variadas coisas: escreveu em torno de trinta e cinco livros e treze cartas. Foi, sem dúvida, o maior discípulo de Sócrates e o principal responsável pela divulgação do pensamento deste seu mestre. Fundou em Atenas, sua cidade natal, uma importante escola: a Academia. Em sua vasta obra já se encontram problematizados a maior parte dos assuntos que se tornarão temas clássicos da filosofia ocidental.

02. Nossos dados sensíveis nos apresentam a transitoriedade de todas as coisas e as nossas diferentes culturas fazem-nos óbvia a tese dos sofistas de que tais coisas são somente as múltiplas interpretações dos homens em conformidade com a disposição em que cada um se encontra. Isto, no entanto, exige que abandonemos qualquer propósito de buscar um conhecimento preciso do mundo ou de alcançar o que é indiscutivelmente justo.

03. Foi assim que, frente à pergunta sobre a possibilidade de conhecermos o mundo com exatidão, os sofistas responderam negativamente: estamos condenados a conviver simplesmente com as múltiplas opiniões acerca do mundo, opiniões estas tantas vezes até contraditórias entre si. Sem real convicção, todo parecer se equivale.

04. Platão enfrentará, de maneira positiva, o problema da possibilidade do conhecimento rigoroso das coisas do mundo no qual nos encontramos e fará disso a preocupação central de sua filosofia. Sendo assim, é estranho que muitos ainda hoje o tomem como um filósofo que menosprezou este nosso mundo. O que levou e ainda leva tantas pessoas a este equívoco?

05. A fim de sustentar, opostamente aos sofistas, uma resposta positiva à possibilidade de conhecermos o nosso mundo com exatidão, Platão elaborou a hipótese conhecida como “Teoria das Ideias”, segundo a qual as coisas verdadeiras existem de forma estática e o mundo no qual nós nos encontramos é constituído de múltiplas manifestações de cada uma dessas Ideias. Caso seja assim, poderíamos conhecer as múltiplas coisas sensíveis com precisão através da Ideia estática, da qual todas elas participam: as coisas diversas e mutáveis dadas aos nossos sentidos são quais sombras várias e cambiantes que se possam produzir de uma única e mesma coisa. Foi dessa maneira que, para facilitar a compreensão de sua hipótese, Platão elaborou uma imagem (uma alegoria) que se encontra descrita por Sócrates, de quem fez personagem principal do seu diálogo denominado A república, em seu livro VII.

06. A analogia dessa narrativa mítica “da caverna” com as nossas atuais condições é-nos claramente sublinhada por Platão já na terceira fala de Sócrates: “São como nós!” Poderíamos, sem prejuízo algum, inverter a comparação: somos como eles, isto é, como aqueles prisioneiros que se encontram diante apenas das sombras que se passam no fundo da caverna, tomando-as como se fossem a própria realidade, múltipla e mutável.

07. Não menos, Platão recorre a uma concepção mística de mundo, corrente entre os pitagóricos – os quais frequentou por algum tempo –, segundo a qual a essência humana é a alma. Sem esta, não se é humano. Por isto mesmo, a alma é imortal, sobrevivendo ao corpo, no qual presentemente ela habita. Esta alma, tomada pelos filósofos como a razão, é imortal, pois ela mesma – destaca Platão – tem a capacidade de conter o eterno, aquilo que não pode ser pensado de outro modo e que, portanto, não pode ser de outro modo. E, não podendo ser de outro modo, só pode ser assim mesmo: imutável, pois, e eterna. Por exemplo, para inicialmente não complicar, podemos recorrer à proposição já examinada no texto Filosofia: em nome da razão (Texto III). Verdadeiramente, não há como pensar o triângulo senão como a figura fechada, na qual a soma dos seus ângulos internos seja idêntica à soma de dois ângulos retos. Pensando diferentemente disso, não é triângulo. Nesse sentido, portanto, não há multiplicidade e nem mutabilidade. Se eu falo, porém, que o triângulo é retângulo (ou seja, tem um dos seus ângulos internos reto), esse predicado é possível ao triângulo, mas não lhe é essencial. Tal figura já não mais participaria tão-somente da ideia de triângulo, mas também de outra ideia, a saber, da ideia de ângulo reto. Daí a multiplicidade que percebemos nas coisas sensíveis: elas participam comumente de várias ideias. Cada ideia é algo em si, é algo puro, uno, não dependendo de outra coisa, senão dela mesma, para ser o que é. As coisas sensíveis têm a sua causa nas ideias das quais participam. São, portanto, dependentes de outrem, efeitos possíveis (não necessários), diversos e acidentais.

08. Essa alma imortal à mística pitagórica preexistia, por conseguinte, ao surgimento do corpo no qual se encontra atualmente. Aproveitando-se disso, Platão sugere que nessa sua preexistência à sua encarnação, a nossa alma teria vivido no “mundo das ideias”, contemplando a realidade verdadeira, cada coisa em sua perfeição, sendo precisamente o trauma advindo da sua posterior encarnação que a fez esquecer do que antes havia contemplado. Não fosse isso, manifestaríamos conhecimento desde tenra idade. Todavia, sendo as coisas do mundo sensível amostras possíveis, embora sempre imperfeitas, das ideias do mundo suprassensível, a experiência do mundo no qual nos encontramos através dos nossos sentidos é a oportunidade pela qual a nossa alma relembra das perfeições outrora admiradas. O conhecimento, dessa maneira, é possível a Platão, mesmo que estejamos diante de coisas secundárias e impróprias. Conhecimento é, finalmente, rememoração ou, em termo clássico da filosofia platônica, reminiscência.

09. Com essa possibilidade de conhecer o verdadeiro, a filosofia nos possibilitaria igualmente a política do justo, a instauração de uma polis diferente daquela que havia condenado Sócrates à morte. A mesma Alegoria da caverna nos revela o “filósofo” retornando àqueles que ainda se encontram no “mundo das sombras” e das aparências sensíveis para libertá-los rumo ao mundo verdadeiro. Aliás, tal Alegoria se encontra precisamente na principal obra política de Platão, A república, como antes já o dissemos.

Clique aqui e aguarde para ler os quadrinhos de Maurício de Souza, As sombras da vida, do personagem Piteco.

10. Não obstante a cidade-Estado considerada racionalmente perfeita por Platão fosse, conforme ele próprio admitiu no “livro IX” d’ A república, “algo que não existe em parte alguma da terra”, considerava-a o fundamento da política justa. De fato, o teor revolucionário de obras que arquitetaram “sociedades ideais”, dentre as quais a platônica é a primeira do Ocidente, far-se-á sentir no decorrer de todos os séculos que se seguirão, pois, por si sós, apresentam-se como alternativas críticas às sociedades existentes. A dificuldade de realização de sua “república” (politeia), Platão a sentiu em vida, quando, por duas ocasiões, motivado por um amigo próximo do rei de Siracusa (na região da Sicília), termina antipático a tal rei, que, na segunda de suas tentativas, vende-o como escravo. Só recuperou sua liberdade porque foi comprado por um amigo seu.

11. Essas experiências abalariam qualquer pessoa, mas, no caso de Platão, tal abalo certamente foi muito maior, pois, ainda jovem, encontrava-se ao lado de Sócrates por motivos não muito diferentes dos outros filhos da aristocracia ateniense que se punham a frequentar um sofista. Platão fazia parte de importante família política de Atenas e, por isso mesmo, esperava-se que se tornasse igualmente famoso político. Todavia, em virtude da oposição de Sócrates aos sofistas e da condenação deste à morte pela cidade, Platão (segundo adiantamos no parágrafo 11 do Texto V) logo percebeu a impossibilidade da prática política adequada sem a dedicação ao pensamento filosófico. Apesar, pois, dessa afinidade desejável, sua realização pareceu-lhe, desde as suas frustradas experiências em Siracusa, muito difíceis. Assim, coincidentemente, Platão sofreu em vida a incompreensão que anteviu e expressou em sua figura do “rei-filósofo” quando retorna para conduzir os seus conterrâneos, ainda acorrentados às falsas aparências, à verdade, ao justo e real: dele riem e, por pouco, não o matam.

12. Mesmo assim, o laço entre filosofia e política (diríamos, hoje, entre pensamento e ação) em Platão permaneceu indelével. Sua última obra, inacabada, Sobre as leis, é um claro indício disso, embora faça notar significativas mudanças em seu pensamento que a farão, no entanto, apta a realizar uma reforma sócio-política, talvez na própria Sicília, após a morte do rei de Siracusa. Soma-se a isso a procedimento platônico (como socrático) de que o caminho para a ascensão ao conhecimento é a dialética, pela qual entre teses e contrateses, ditos e contraditos, vamos realizando a depuração para o verdadeiro (a reminiscência). Na prática, é a conversação, é o diálogo entre diferentes interlocutores, entre cidadãos (forma que Platão dará às suas obras), que permite-nos trilhar para fora da “caverna”, para o mundo das verdades, para a polis justa, na qual, em sua destinação, comumente expressa em leis, todos vêem a sua própria destinação.


Assistir, no Youtube, ao vídeo respectivo ao seguinte endereço:

http://www.youtube.com/watch?v=nxVwsKNv08Q&feature=related