Pensar as coisas, pensar sobre o que se pensou e assim sucessivamente. Pensamento que se dobra sobre si mesmo, reflexão. A razão rumina a existência. Absortos, matutando, isto é filosofar. Pense conosco!

Acima, Caipira Picando Fumo
J. F. Almeida Júnior
Óleo sobre tela, 1893
Museu de Arte Contemporânea de São Paulo





25 de abr. de 2010

TEXTO II: O Berço da Filosofia Ocidental

Rodrigo Rodrigues Alvim
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01. Embora haja todo um cabedal de pensamentos que denominamos “filosofia oriental”, a filosofia de que ora trataremos se restringirá aos limites do que chamamos Ocidente.

02. Indiscutivelmente, já havia intercâmbio entre os povos antigos, mas, pouco a pouco, os gregos passaram a desenvolver um modo de pensar incomum em meio à predominância da cosmovisão religiosa, expressa em imagens e narrativas míticas. Ao lado, pois, da arte, do mito e da religião, a filosofia se construiu, tentando depurar a autoridade aristocrática da tradição pelos filtros públicos da razão.

03. Tal movimento, contudo, insistimos, não é abrupto: trata-se de um longo processo histórico e indefinido. A filosofia não substitui a arte, o mito e a religião e nem é substituída pela ciência. Todos estes são diferentes modos humanos de se compreender e de se expressar “a realidade”. Se se relaciona geralmente a filosofia à razão, a religião à autoridade e a arte ao sentimento, isto é somente uma questão de ênfase. Autoridades (no sentido de princípios norteadores), sentimentos e razão são dimensões do ser humano constantemente ativos, apesar de suas alternadas predominâncias. Na modernidade, particularmente com o advento da “nova ciência”, sublinhou-se, também e ainda mais, a importância da experiência para uma adequada compreensão e expressão da realidade.

04. Se a filosofia é comumente apresentada como avessa à autoridade, deve-se bem entender que se trata de se fazer avessa à autoridade arbitrária (como historicamente marcou a imagem mítico-religiosa de mundo). Afinal, há como sustentar que a própria filosofia tem por sua autoridade a razão. Esta razão, no entanto e como já vimos, não pertence a alguns homens apenas, mas a todos igualmente. É precisamente essa universalidade, associada ao fato de que também há uma unidade na dinâmica dos acontecimentos, que denunciará os frágeis fundamentos das muitas discriminações existentes entre os homens e mantidas pelas imemoriais tradições mítico-religiosas. É por isso que, muitas vezes, vemos a filosofia em entrechoques com o mito e a religião. Desde então, toda compreensão mítico-religiosa que não tiver a capacidade de se traduzir em termos racionais será repudiada pela filosofia e sentenciada supersticiosa. Ou, em termos mais amplos, tudo o que não passar pelo crivo da razão (crítica) será apontado pela filosofia como quimera. E uma vez que cada um de nós é dotado de razão, cada um tem igual autoridade para inspecionar a solidez do que culturalmente herdamos dos nossos antepassados.

05. No sentido do que até aqui escrevemos, conseguimos retroagir maximamente a filosofia aos gregos antigos dos séculos VI ao IV a. C. De fragmentos de escritos destes ou sobre estes homens, percebemos já traços característicos do que denominamos “razão”. Deste modo, consensualmente a comunidade filosófica se volta para Tales, da cidade-Estado grega de Mileto, como o primeiro filósofo do Ocidente. Tales afirmava que a água é a origem ou o princípio (arché) de todas as coisas existentes no mundo. Não obstante a aparente simplicidade de sua afirmação, ela anunciava um modo revolucionário de tratar o mundo, principalmente por dois aspectos: primeiramente, implicava que a origem do mundo era imanente e, por se encontrar no próprio mundo no qual estamos inseridos, estaria como que ao nosso alcance conhecer, fazendo-nos independentes dos deuses que nos transcendem, porque, até então, ainda dominava a cosmovisão de que tudo o que acontece e nos acontece no mundo era obra do entrecruzamento das vontades caprichosas dos deuses; em segundo lugar, implicava uma redução da multiplicidade à unidade, medida que fazia as coisas comensuráveis entre si, intercambiáveis, e não mais isoladas, irredutíveis manifestações do politeísmo. O teorema matemático que leva o seu nome é igualmente, como qualquer outro teorema, índice de que há uma unidade e estabilidade no mundo, apesar de toda a sua diversidade e mutabilidade imediata.


06. Discípulo de Tales, Anaximandro de Mileto também defendeu uma unidade imanente como origem de toda determinação múltipla do mundo, mas a tomou como algo “indeterminado”, prenunciando a capacidade de “abstração” que perfila a racionalidade, à medida que dispensa cada vez mais o uso de imagens (ou da sua faceta denominada “imaginação”) pela elaboração e articulação de conceitos (próprias de sua faceta denominada “entendimento”).

07. Anaxímenes de Mileto, discípulo por seu turno de Anaximandro, apresenta o “ar”, um elemento que não nos é tão diretamente dado na natureza como a “água” de Tales e nem tão abstrato qual o “indeterminado” de seu mestre, como aquilo de que todas as coisas provêm. Isto o aproxima da tradição mítico-religiosa, conforme a qual é um pneuma, é um “sopro”, é um espírito que inspira, que preenche e que sustenta cada parte constitutiva da vida. Todavia, o tratamento que Anaxímenes dá à sua proposição o distingue das narrativas mítico-religiosas.

08. Assim, essa Escola de Mileto ficou conhecida pela sua defesa da unidade constitutiva da physis. Mas poderia um só elemento justificar toda riqueza que observamos do mundo? Empédocles, da cidade-Estado de Agrigento, pensou que não, propondo quatro “raízes” para a natureza: terra, água, fogo e ar. Além disso, inovou o pensamento filosófico com dois princípios coordenadores dos movimentos dessas “raízes”: o amor, como sua força agregadora; o ódio, como sua força desagregadora. Tudo isso responderia pela mutabilidade que presenciamos na natureza, apesar de imutável em suas bases.

09. Pitágoras, da cidade-Estado de Samos, intuiu e defendeu que tudo era medida, ou melhor, que cada coisa era segundo a sua medida. Portanto, na fundamentação de tudo estava a unidade, o “um” (o ponto), que, se somado a si mesmo, gera, sucessivamente, o dois (a reta: relação entre dois pontos) e o três (o mínimo de plano) e o quatro (o sólido), realidades de que tudo mais é feito: 1 + 2 + 3 + 4 = 10. O dez, portanto, é o número da totalidade e da harmonia, donde o triângulo equilátero, estável pela igual medida dos seus lados, figura por excelência do universo. Pitágoras encantou-se com as relações matemáticas que descobria, percebendo, inclusive, que a harmonia musical também respeitava determinadas proporções numéricas, a “justa medida”.

10. Mas, enquanto Pitágoras compreendia a unidade como indivisível, Anaxágoras de Clazômenas, defensor da existência de uma inteligência que perpassaria todo universo, advogou a divisibilidade ao infinito da unidade. Neste aspecto, Leucipo de Mileto ou Eléia e Demócrito de Abdera concordarão com Pitágoras, mas estabelecerão, além disso, que os “não-divisíveis” (átomos) são distintos entre si por atributos geométricos.

11. Toda essa discussão acerca do(s) elemento(s) imanente(s) de que tudo se origina foi, todavia, entrecortado por uma disputa sobre a condição verdadeira do mundo, que inaugurou, por assim dizer, duas vertentes, entre as quais todos os filósofos vão se distribuindo no decorrer da história em conformidade com as suas tendências. Heráclito de Éfeso, cognominado “o obscuro”, será o aporte da vertente que toma o movimento conflitante (ou dialético) das coisas do mundo como real. Parmênides de Eleia será, no extremo oposto, o aporte da vertente que toma o movimento do mundo como ilusão da verdade, sendo o verdadeiro propriamente dito o imutável, o qual somente a capacidade racional humana alcança, antes ultrapassando o aparente sensível.

12. Dos escritos desses filósofos, hoje só temos fragmentos. Contudo, a partir de outros filósofos ou escritores contemporâneos seus ou muito próximos daqueles tempos, temos o que chamamos de “doxografia” (literalmente, “escritos opinativos” sobre o que tais filósofos disseram). Segue, assim, uma seleção desses fragmentos ou comentários que devem ser lidos para uma compreensão de primeira mão ou de mão mais próxima do tempo dos filósofos que aqui esboçamos:

TALES DE MILETO (624 – 547 a. C.):

A maior parte dos filósofos antigos concebia somente princípios materiais como origem de todas as coisas (...). Tales, o criador de semelhante filosofia, diz que a água é o princípio de todas as coisas (por esta razão afirmava também que a terra repousa sobre a água). (Aristóteles, Metafísica).

Tales e sua escola: o cosmos é um. (Aécio, Sobre a opinião dos filósofos).

ANAXIMANDRO DE MILETO (610 – 547 a. C.):

Afirma que não é a água ou qualquer outro o elementar, mas algo de diferente natureza, ilimitada, da qual seriam formados todos os céus e os cosmos naqueles contidos. (Simplício da Cilícia, Comentários).

ANAXÍMENES DE MILETO (585 – 524 a. C.):

Como nossa alma, que é ar, nos governa e sustém, assim também o sopro e o ar abraçam o cosmos. (Fragmento, único).

HERÁCLITO DE ÉFESO (550/540 – 480/470 a. C.):

Este mundo, igual para todos, nenhum dos deuses e nenhum dos homens o fez; sempre foi e será um fogo eternamente vivo, acendendo-se e apagando-se conforme a medida. (Fragmento, 30).

Descemos e não descemos aos mesmos rios; somos e não somos. (Fragmento, 49a).

Eles não compreendem como, separando-se, podem harmonizar-se: harmonia de forças contrárias, como o arco e a lira. (Fragmento, 51).

A guerra é o pai de todas as coisas e de todas o rei; de uns fez deuses, de outros, homens, de uns, escravos, de outros, homens livres. (Fragmento, 53).

O caminho da espiral sem fim é reto e curvo, é um e o mesmo. (Fragmento, 59).

Imortais, mortais; mortais, imortais. A vida destes é a morte daqueles e a vida daqueles é a morte destes. (Fragmento, 62).

Não se pode entrar duas vezes no mesmo rio. Dispersa-se e reúne-se; avança e se retira. (Fragmento, 91).

A doença torna a saúde agradável; o mal, o bem; a fome, a saciedade; a fadiga, o repouso. (Fragmento, 111).

O pensamento é comum a todos. (Fragmento, 113).

A natureza ama esconder-se. (Fragmento, 123).

A mais bela harmonia cósmica é semelhante a um monte de coisas atiradas. (Fragmento, 124).

O frio torna-se quente, o quente frio, o úmido seco e o seco úmido. (Fragmento, 126).

PITÁGORAS DE SAMOS (571/570 – 497/496 a. C.):

Os assim chamados pitagóricos, tendo-se dedicado às matemáticas, foram os primeiros a fazê-las progredir. Dominando-as, chegaram à convicção de que o princípio das matemáticas é o princípio de todas as coisas. E como os números são, por natureza, os primeiros entre estes princípios, julgando também encontrar nos números muitas semelhanças com seres e fenômenos, mais do que no fogo, na terra e na água, afirmavam a identidade de determinada propriedade numérica com a justiça, uma outra com a alma e o espírito, outra ainda com a oportunidade, e assim todas as coisas estariam em relações semelhantes; observando também as relações e leis dos números com as harmonias musicais, parecendo-lhes, por outro lado, toda a natureza modelada segundo os números, sendo estes os princípios da natureza, supuseram que os elementos dos números são os elementos de todas as coisas e que todo o universo é harmonia e número. E recolheram e ordenaram todas as concordâncias que encontravam nos números e harmonias com as manifestações e partes do universo, assim como com a ordem total. (Aristóteles, Metafísica).

PARMÊNIDES DE ELEIA (530 – 460 a. C.):

[A deusa da Justiça e do Direito:] E agora vou falar; e tu escutas as minhas palavras e guarda-as bem, pois vou dizer-te dos únicos caminhos de investigação concebíveis. O primeiro (diz) que (o ser) é e que o não-ser não é; este é o caminho da convicção, pois conduz à verdade. O segundo, que o não-ser é, e é necessário; esta via, digo-te, é imperscrutável; pois não podes conhecer aquilo que não é – isto é impossível –, nem expressá-lo em palavra.

Pois pensar e ser é o mesmo.

Contempla como, pelo espírito, o ausente, com certeza, se torna presente; pois ele não separará o ser de sua conexão ao ser, nem para desmembrar-se em uma dispersão universal e total segundo a sua ordem, nem para reunir-se.

Pouco me importa por onde eu comece, pois para lá sempre voltarei novamente.

Necessário é dizer e pensar que só o ser é; pois o ser é, e o nada, ao contrário, nada é: afirmação que bem deves considerar. Desta via de investigação, eu te afasto; mas também daquela outra, na qual vagueiam os mortais que nada sabem, cabeças duplas. Pois é a ausência de meios que move, em seu peito, o seu espírito errante. Deixam-se levar, surdos e cegos, mentes obtusas, massa indecisa, para a qual o ser e o não-ser é considerado o mesmo e não o mesmo, e para a qual em tudo há uma via contraditória.

Jamais se conseguirá provar que o não-ser é; afasta, portanto, o teu pensamento desta via de investigação, e nem te deixes arrastar a ela pela múltipla experiência do hábito, nem governar pelo olho sem visão, pelo ouvido ensurdecedor ou pela língua; mas com a razão decide da muito controvertida tese, que te revelou a minha palavra.

Resta-nos assim um único caminho: o ser é. Neste caminho há grande número de indícios: não sendo gerado, é também imperecível; possui, com efeito, uma estrutura inteira, inabalável e sem meta; jamais foi nem será, pois é, no instante presente, todo inteiro, uno, contínuo. Que geração se lhe poderia encontrar? Como, de onde cresceria? Não te permitirei dizer nem pensar o seu crescer do não-ser. Pois não é possível dizer nem pensar que o não-ser é. Se viesse do nada, qual a necessidade teria provocado seu surgimento mais cedo ou mais tarde? Assim, pois, é necessário ser absolutamente ou não ser. E jamais a força da convicção concederá que do não-ser possa surgir outra coisa. Por isto, a deusa da Justiça não admite, por um afrouxamento de suas cadeias, que nasça ou que não pereça, mas mantém-no firme. A decisão sobre este ponto recai sobre a seguinte afirmativa: ou é ou não é. Decidida está, portanto, a necessidade de abandonar o primeiro caminho, impensável e inominável (não é o caminho da verdade); o outro, ao contrário, é presença e verdade. Como poderia perecer o que é? Como poderia ser gerado? Pois se gerado, não é, e também não é, se devera existir algum dia. Assim, o gerar se apaga e o perecimento se esquece.
Também não é divisível, pois é completamente idêntico. E não poderia ser acrescido, o que impediria a sua coesão, nem diminuído; muito mais, é pleno de ser; por isso, é todo contínuo, porque o ser é contíguo ao ser.
Por outro lado, imóvel nos limites de seus poderosos liames, é sem começo e sem fim; pois geração e destruição foram afastadas para longe, repudiadas pela verdadeira convicção. Permanecendo idêntico e em um mesmo estado, descansa em si próprio, sempre imutavelmente fixo e no mesmo lugar; pois a poderosa necessidade o mantém nos liames de seus limites, que o cercam por todos os lados, porque o ser deve ter um limite; com efeito, nada lhe falta; fosse sem limite, faltar-lhe-ia tudo.
O mesmo é pensar e o pensamento de que o ser é, pois jamais encontrarás o pensamento sem o ser, no qual é expressado. Nada é e nada poderá ser fora do ser, pois Moira o encadeou de tal modo que seja completo e imóvel. Em consequência, será (apenas) nome tudo o que os mortais designaram, persuadidos de que fosse verdade: geração e morte, ser e não-ser, mudança de lugar e modificação do brilho das cores.
Porque dotado de um último limite, é completo em todos os lados, comparado à massa de uma esfera bem redonda, equilibrada desde seu centro em todas as direções; não poderia ser maior ou menor aqui ou ali. Pois nada poderia impedi-lo de ser homogêneo, nem aquilo que é não é tal que possa ter aqui mais ser do que lá, porque é completamente íntegro; igual a si mesmo em todas as suas partes, encontra-se de maneira idêntica em seus limites.
Com isto, ponho fim ao discurso digno de fé que te dirijo e às minhas reflexões sobre a verdade; e a partir deste ponto aprende a conhecer as opiniões dos mortais, escutando a ordem enganadora de minhas palavras.
Eles convieram em nomear duas formas, uma das quais não deveria sê-lo – neste ponto enganaram-se; separaram, opondo-as, as formas, atribuindo-lhes sinais que as divorciam umas das outras: de um lado, o fogo etéreo da chama, suave e muito leve, idêntico a si mesmo em todas as partes, mas não idêntico ao outro; e de outro lado, esta outra que tomaram em si mesma, a noite obscura, pesada e espessa estrutura. Participo-te toda esta ordem aparente do mundo, a fim de que não te deixes vencer pelo pensamento de nenhum mortal. (Fragmentos, 2 a 8).

EMPÉDOCLES DE AGRIGENTO (495/490 – 435/430 a. C.):

É impossível que algo possa ser gerado do que não é, e jamais se realizou nem se ouviu dizer que o que é seja exterminado; o que é sempre estará lá, onde foi colocado por cada um. (Fragmento, 12).

E no Todo nada há de vazio ou de supérfluo. (Fragmento, 13).

Duas coisas quero dizer; às vezes, do múltiplo cresce o uno para um único ser; outras, ao contrário, divide-se o uno na multiplicidade. Dupla é a gênese das coisas mortais, duplo também o seu desaparecimento. Pois uma gera e destrói a união de todos (elementos); a outra, (apenas) surgida, se dissipa, quando aqueles (os elementos) se separam. E esta constante mudança jamais cessa: às vezes todas as coisas unem-se pelo Amor, outras, separam-se novamente (os elementos) na discórdia do Ódio. Como a unidade aprendeu a nascer do múltiplo, assim geram-se as coisas e a vida não lhes é imutável; na medida, contudo, em que a sua constante mudança não encontra termo, subsistem eternamente imóveis durante o ciclo.
Escuta as minhas palavras! Pois o estudo te fortalece o entendimento. Como já disse antes, ao expor o objetivo de minha doutrina, duas coisas quero anunciar. Às vezes, do múltiplo cresce o uno para um único ser; outras, ao contrário, divide-se o uno na multiplicidade: fogo e água e terra e do ar a infinita altura; e separado deles, o Ódio funesto, igualmente forte em toda parte, e o Amor entre eles, igual em comprimento e largura. Contempla-o com o teu espírito, e não permaneças sentado, com olhos pasmos. A ele, julgam-no os mortais enraizado em seus membros, e com ele nutrem pensamento de amor e realizam obras de união; enlevo chamam-no, e Afrodite. E nenhum dos homens mortais sabe que ele se move circularmente entre eles (os elementos). Quanto a ti, escuta a sequência sem equívocos de meu discurso. Pois todos aqueles (elementos e forças) são de igual força e idade quanto à sua origem, embora cada um deles tenha missões diversas, sua natureza particular, predominando, ora um, ora outro, no ciclo do tempo. Fora disto nada se acrescenta e nada deixa de existir. Pois tivessem perecido até seu termo, já não existiriam. E o que poderia aumentar este Todo e donde poderia vir? Como poderiam perecer, pois nada é deles vazio? Não, somente eles são, e circulando uns através dos outros, tornam-se ora isto ora aquilo, e assim para sempre os mesmos. (Fragmento, 17).

DEMÓCRITO DE ABDERA (460 – 370 a. C.):

Em verdade, nada aprendemos que seja infalível, mas somente o que nos vem através da disposição momentânea de nosso corpo e dos (átomos) que nos atingem ou se lhe opõem. (Fragmento, 9).

Há duas formas de conhecimento, uma autêntica e a outra obscura (inautêntica). À obscura pertencem todos os seguintes: a vista, o ouvido, o olfato, o gosto, o tato; a outra é autêntica, daquela completamente separada. Quando a obscura se revela incapaz de ver o menor, ou de ouvir, de cheirar, de degustar, de tocar, fazendo-se necessário levar a pesquisa ao que é mais sutil, então toma-lhe o lugar a forma autêntica, dotada de um órgão de conhecimento mais fino. (Fragmento, 11).

Assim como Leucipo, também Demócrito, seu discípulo, dizia que o cheio e o vazio são os princípios, sendo um existente e o outro não-existente. Pois os átomos são a matéria das coisas e todo o resto se segue de suas diferenças. Estas são três: forma, movimento e ordem. (Simplício da Cilícia, Comentários).

Demócrito diz que em realidade não há cores. Pois o cheio e o vazio, os átomos, são desprovidos de qualidades. Contudo, as composições dos átomos, conseqüentes de sua ordem, forma e de seu movimento, são coloridas. (Aécio, Sobre a opinião dos filósofos).

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